22.1.08

A VOZ


Lembras-te de mim?
A voz atravessou o tempo e perfurou-me a alma
Sábia
Paralisou-me enquanto a vida corria, e eu a correr
Parada ao lado da vida
Deitada
Corpo fetal à espera de nascer, para sempre
À espera do tempo longo
Sozinha
Suguei a seiva de fel que brotou do ventre da terra
Amarguei-me por dentro
Espero
Cansada de fugir do medo
Abri os meus braços
Abraço
Vi os teus olhos ao fundo mas não te ouvi
Dentro de mim só existia a voz
Sábia
Embuste sério daquilo que sou
Que me força a estar aqui
Deitada
A caminhar para a luz escura que me espera
Desde que nasci
Sozinha
Autómato de vontade própria
Que segue em frente, mesmo sem querer
Espero
Aquele momento, o derradeiro princípio
O fim do começo
Abraço
E no vazio
A voz a dizer
Lembras-te de mim?

3 comentários:

D. disse...

PORQUE DESAPARECES?

Anónimo disse...

Como é que alguém se pode esquecer..... de ti .....! Ninguém ... nunca!
Continua, que nós adoramos ler-te!

Anónimo disse...

Hoje caminhei pêla linha que depara-me todas as manhâs. A mesma ruta. Saio de casa, e sempre olho para o espelho do restorante. O meu cabelo encaracolado é louco e forma uma capa com o vento. Essa é uma das sensaçoes de liberdade que sinto com o meu ánimo. O meu ánimo dança com pensamentos e memorias, com pretençoes de ser, do que fui. Ja nao há espaço na minha memoria nem na minha imaginaçao para ser mais ninguem. E por isso, de essa miseria aceita que é a minha pessoa, com essa arrogancia atravessei a rua de Ourense. O semaforo estava vermelho, e cuando cheguei ao passeio de emfrente vivia uma realidade que era outra. Eu sabia, fiquei alí. Ja ninguem me ouve, ja ninguem me vê, ja ninguem sabe onde estou. Nem o preto que pede a esmola estendeu a mao á procura de alguma mao com prata.
Nâo era a primeira vez que eu atingia um limite, nem nunca até hoje, tinha pensado na minha nova realidade.
Mas eu veijo a mesma vida. O preto continua a vender jornais, a loira do elevador continua a esnifar linhas, o marroquino continua a ser inspecionado por os guardas, o metro continua a chegar fora de hora. E eu continuo no imaginario da minha existencia ultraterrena. Porque para os mortos existe um Deus noutra terra alêm da morte. A minha vida depara um monologo continuo. Mas eu nâo dava conta.