22.3.07

Estes olhos

Estes olhos tristes que olham para mim:
de uma tristeza sem fim.

Olhos de um nevoeiro cerrado
longo e demorado:
muro de betão armado.
Olhos de vida roubada
abandonada e saqueada
– por todos…enfim.

Corpo negro de carvão,
enjeitado e maltrapilho
estendido neste chão.
Corpo pisado a cada passo,
de mão aberta no espaço: a pedir.
A pedir…olhem para mim.

Pés descalços descarnados
de caminhos amargurados
que trilharam sobre cardos
sobre as chamas do inferno
e que pouco, muito pouco repousaram.

Estes olhos tristes que olham para mim:
de uma tristeza sem fim.

Mil sonhos desprezados
de quimeras malogradas
numa infância muito curta:
vivida num momento
fugaz e passageiro,
transformado num lamento.
Tempo parado no tempo
tempo que dói a passar
que deixa marcas profundas em sulcos rasgados
por onde escorrem as lágrimas;
tempo: que se acaba.

E no vazio deste olhar:
a morte, sempre vencedora
sempre triunfal
filha de uma outra sorte.
O luto na pele: pele de carvão.
O luto na alma: noite escura, noite sem luar.

Estes olhos tristes que olham para mim:
de uma tristeza sem fim.

Como um animal
sujo e lazarento
tratado como um jumento
ali fica, deitado.
A mão, aberta, vazia: a pedir.
A pedir…olhem para mim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que bonito pode ser um olhar tão triste! mas mais triste q um olhar tão triste é quem nem sequer pode olhar.....
Bonito poema. Parabéns!!! Adoro os teus poemas. escteve sempre .

Anónimo disse...

Vejo esses olhar todos os dias, toca-me no coracao e pressegue-me nos sonhos. No entanto esse olhar reflecte-se em mim como um espelho e... amanha e' outro dia! Exprimiste o que eu sinto por isso es poeta e eu nao!!!!! Obrigada pois senti que me libertei pelas tuas palavras. Este sera sempre o meu poema preferido pois toca-me pessoalmente.