INSÓNIA
Quem me procura na noite
enquanto tento dormir
e perturba o meu pensamento
que no mais profundo tormento
se tenta em vão exprimir?
Só pode ser a tempestade
que como trovão retumba assim.
É um sentimento de tristeza
que tolhe meu corpo e alma
e vem da natureza: para dentro de mim.
Sinto os braços frios da escuridão,
braços frios como a neve,
envolverem-me como um véu
- fino e gélido cor de breu -,
que enleiam o meu coração.
No abismo desta noite
enquanto tento dormir
procuro por fim discernir
o que é insónia ou solidão.
Cansada então de lutar
abandono-me ao meu pesar
abraço a noite escura
numa infinita ternura
e começo a soluçar.
Triste sorte esta a minha,
que nas tácitas trevas busca amparo
que no inferno procura o céu.
Estando eu neste desalento
eis que ouço por entre o meu lamento
um débil murmurinho.
Um canto doce e delicado
de um pequeno passarinho.
E no viço da manhã,
num embalo musical
de uma frágil toutinegra,
Como um bebé em seu berço,
suavemente eu adormeço.