24.3.10

INSÓNIA

Quem me procura na noite
enquanto tento dormir
e perturba o meu pensamento
que no mais profundo tormento
se tenta em vão exprimir?
Só pode ser a tempestade
que como trovão retumba assim.
É um sentimento de tristeza
que tolhe meu corpo e alma
e vem da natureza: para dentro de mim.
Sinto os braços frios da escuridão,
braços frios como a neve,
envolverem-me como um véu
- fino e gélido cor de breu -,
que enleiam o meu coração.

No abismo desta noite
enquanto tento dormir
procuro por fim discernir
o que é insónia ou solidão.
Cansada então de lutar
abandono-me ao meu pesar
abraço a noite escura
numa infinita ternura
e começo a soluçar.
Triste sorte esta a minha,
que nas tácitas trevas busca amparo
que no inferno procura o céu.

Estando eu neste desalento
eis que ouço por entre o meu lamento
um débil murmurinho.
Um canto doce e delicado
de um pequeno passarinho.

E no viço da manhã,
num embalo musical
de uma frágil toutinegra,
Como um bebé em seu berço,
suavemente eu adormeço.

22.1.08

A VOZ


Lembras-te de mim?
A voz atravessou o tempo e perfurou-me a alma
Sábia
Paralisou-me enquanto a vida corria, e eu a correr
Parada ao lado da vida
Deitada
Corpo fetal à espera de nascer, para sempre
À espera do tempo longo
Sozinha
Suguei a seiva de fel que brotou do ventre da terra
Amarguei-me por dentro
Espero
Cansada de fugir do medo
Abri os meus braços
Abraço
Vi os teus olhos ao fundo mas não te ouvi
Dentro de mim só existia a voz
Sábia
Embuste sério daquilo que sou
Que me força a estar aqui
Deitada
A caminhar para a luz escura que me espera
Desde que nasci
Sozinha
Autómato de vontade própria
Que segue em frente, mesmo sem querer
Espero
Aquele momento, o derradeiro princípio
O fim do começo
Abraço
E no vazio
A voz a dizer
Lembras-te de mim?

7.11.07

RARO


Nasceu depressa, antes do tempo
Do tempo que tem pressa
Nasceu como todos, inconsciente da sua consciência
Alheio às voltas do mundo
- Raro, disseram os médicos
Fora do corpo da mãe, para sempre no seu coração
Único no meio de muitos
- Raríssimo, disseram os pais
Guerra ganha em cada batalha, em cada minuto
Em cada segundo
- Genético, disseram os médicos
É estrela cadente que rasga o céu numa noite escura
É luz que apaga as outras
- Nosso, disseram os pais
Tristeza que se sente num momento e se transforma em amor
Para sempre
- Diferente, disseram os médicos
Diferente porque é belo, belo porque é raro
Raro como um diamante
- Incomparável, disseram os pais
Nasceu diferente entre iguais ou igual entre diferentes
Com o seu quê de diamante e estrela cadente
Raro como tudo o que é precioso
Raríssimo como tudo que é único
Raro: como a vida


26.9.07

DEMÊNCIA

Não sei quem sou nem quem me olha de frente
São olhos que me fitam através do espelho
: perdidos
Tristes olhos que choram sem saberem a razão
Da mágoa salgada que sinto na boca
: amarga
- Conheço-te de sempre e não sei quem és
E olhas-me com ternura
: sentida
Sentas-me no colo do teu olhar e embalas-me
Até voltarmos à infância para brincarmos
: alegres
Cantamos e rimos como crianças
Com caretas e esgares
: ridículos
Que se apagam na noite que cai
E me enche de medo
: infinito.
Sentada na escuridão desta noite
Sozinha atrás do espelho
: partido
Como um preso na sua cela
Sem conseguir provar a inocência
: espero
Pelo fim desta agonia que nem sei que sinto
Mas que vejo nos teus olhos
: vazios.

24.6.07

ESCADAS

Desceu as escadas em direcção ao rio e deixou para trás a cidade perdida no meio do burburinho. É o dia que se transforma em noite enquanto desce pelo casario, são sombras que se transformam em noite.
Numa janela um gato olha-o através do olhar de Lúcifer.
Debaixo dos seus pés as pedras gastas dos degraus mexem-se sozinhas e levam-no ao inferno.
O inferno: é uma sombra muito grande que o espera lá em baixo, no fundo desta escada que só desce.
As pombas levantam voo ao som dos passos que ecoam e vão pousar num telhado, a olhar, à espera.
Finalmente a «dose» que lhe entra directamente na veia; no fundo do abismo, um atalho para o paraíso.
O paraíso: é uma luz muito forte que existe para lá do inferno.
Foi a última vez que desceu as escadas.
Foi a sua última vez
O gato continuou sentado à janela.
As pombas voaram e o seu corpo deitado no chão, lá do alto, não passava de um pontinho negro, insignificante, no meio das casas. Uma sombra perdida nas sombras.

18.6.07

COMA


É Fevereiro porque o céu não está azul e em Fevereiro o céu nunca está azul. É Fevereiro porque uma chuva miudinha bate na janela desde manhã, monótona e triste, numa cadência que faz lembrar o pulsar de um coração apressado: bate porque tem que bater, cai porque tem que cair, chove porque é Fevereiro.
A chuva escorre em pequenas gotas que vão-se juntando, mais e mais, até formarem uma grande que, pesada, escorre lentamente pelo vidro e se vai juntar a outras e outras e outras. É um rio que corre pelas ruas em direcção ao mar, inexorável, em direcção ao mar. Como se ainda antes de ser líquida já soubesse que, mesmo sem querer, o caminho é aquele; como uma parte mínima de um universo enorme que se funde num todo, para sempre.
Ontem, o coração daquele homem parou. Sem aviso, sem mais nem menos: parou. Talvez farto de bater sem motivo ou de bater por motivo sem grande interesse: parou. O sangue gelou nas veias, todos os músculos abandonaram a sua forma, e, o olhar, parado, uma savana imensa estendida ao sol.
Homens e mulheres de branco: tubos: seringas; é preciso canalizar uma veia, dizem. O olhar perdido. Anjos a lutarem com a morte: bate coração, bate. O retorno. O sangue circula novamente, num corpo morto, num cérebro morto. Tudo: morto: só, um coração que bate. E o olhar, vago, de cristal, de gota impedida de se juntar ao mar, preso no vidro de uma janela qualquer.

2.6.07

ILUSÃO

O papel onde escrevo não é papel
A tinta com que escrevo não é tinta
O livro em que eu publico não é livro
As palavras que digo não são palavras
Os momentos que passam não são momentos
As memórias que guardo não são memórias
A existência é potencial – a realidade, virtual
Eu: só existo se tu existires
Eu: só escrevo se tu leres
Eu: só falo se tu ouvires
Dependo de ti para viver, vivo através de ti, em ti.
Preciso-te para saber de mim, para me dizeres se realmente existo

Sou: aquilo que vês que sou
Sou: aquilo que lês que escrevo
Sou: aquilo que me ouves dizer
Os mundos só são mundos quando os descobrimos, até lá são pontos negros perdidos no universo. São: bocados de noite
Tu: és qualquer pessoa que me conheça
Tu: és qualquer pessoa que me leia
Tu: és qualquer pessoa que me ouça
A luz só nos mostra aquilo em que reflecte, tudo o resto é ilusão.



8.5.07

PRESSA

A manhã é parada dentro do carro
O carro parado no tempo
O tempo parado no trânsito
O trânsito é uma via rápida parada, uma via lenta adormecida ao sol da manhã.
No carro, ela olha para o espelho, retoca o batom e arranja o cabelo.
Pára, arranca, pára mais do que arranca e mergulha na sombra, devagar. Pára.
Ao lado: um prédio, construção económica de bairro social, degradado, cinzento – uma sombra projectada, um túnel escuro.
Inquieta-se, vai chegar atrasada. Os carros compactos em fila, parados.
Numa janela: um olhar: parado
Um rosto cavado, sem dono, à espreita. Espião de sonhos
A manhã é uma sombra que espreita de uma janela com a roupa estendida a secar, cinzenta sobre a via rápida.
Incomodada disfarça, não olha, não pensa,não lamenta. Acelera sem sair do lugar - tem pressa, quer fugir.
Não resiste: olha novamente e lá está ele, o cadáver, estático. Pousado como um boneco, sentado numa cadeira, a aguardar o fim da tarde, o fim da vida. A vida que já é tarde. O corpo velho a cheirar a mijo, numa decomposição antes da morte.
A manhã avança dentro do carro
O carro avança no tempo
O tempo avança no trânsito
A vida é um momento breve que acaba num suspiro muito longo.
A sombra é agora um pontinho escuro que vê pelo retrovisor. O sol invade o carro, obrigando-a a pôr óculos escuros. Está atrasada. Acelera. Tem pressa, pressa de viver.

1.5.07

ANJOS


São: sombras que caem da noite e escorrem pelas paredes
Como água
Escorrem pelo chão e caem nas valetas
: são anjos
Errantes, alienados – perdidos
São: luzes que ofuscam o dia e incendeiam a terra
Como fogo
Queimam tudo e ofuscam o sol
: são anjos
Vadios, ébrios – loucos
São: caos que preenche o corpo e acalma a alma
Como droga
Quietude que perturba sem saber
: são anjos
Enganados, sedentos – dilacerados
São: vidas que doem muitas vidas
Como pedras
Arremessadas com força, à bruta
: são anjos
Ensandecidos, apáticos – esquecidos
São: transviados, esquizofrénicos, bêbados
Como homens
Drogados, amaldiçoados
: são anjos.

22.4.07

DESMANCHO


Desmancho
Bocados da minha infância em momentos
Guardados em sorrisos
Que me olham – estúpidos
Do outro lado do tempo.
Anos desfocados na memória que trai
A ser fiel,
A mostrar nítidas as sombras da manhã
Que nasce cinzenta.
Desmancho
Estilhaços meus que ficaram em ti
Matéria e espírito em partes iguais
Parte da minha vida que vive em mim
Em restos
Sobras do passado, do que fui.
Ainda sou, aquilo, que hoje
Aqui
Desmancho.

12.4.07

TEMPO


O tempo é um espaço muito longe, o tempo é espaço
O momento passa: aqui, onde estou. Eu só estou onde está o tempo
- Corre tempo!
Eu estou «aqui», porque é «agora»; depois, é um espaço em branco
O espaço é um tempo muito perto, o espaço é tempo
- Corre espaço!
No tempo tudo gira: planeta: ponteiros: eu
O chão debaixo dos meus pés, sempre, sempre
- Corre mundo!
E o rio que viaja no leito: tempo que se escoa
Água transformada em espaço
- Corre rio!
Criança que já não é adulto, que já não é pessoa
Somente o que fica: um espaço de tempo
- Corre vida!

28.3.07

MORRI

MORRI.
Dei um último suspiro e morri.
Comigo morreu tudo o resto
o sorriso dos meus filhos, os meus próprios filhos.
As tardes mornas de domingo e as férias de família.
Morreu Janeiro e a neblina fria da manhã…
morreu Janeiro a começar o ano que acabou fechado na eternidade
fim no principio que encerra e que acaba.
Morreu Fevereiro grotescamente vestido de Carnaval
entre risos gelados de corpos despidos e azulados;
morreram caras pintadas, desfiguradas, de vidas disfarçadas.
Morreu Março a nascer.
Todos os pássaros, todas as flores, todas as cores.
Morreram os bebés dentro das suas mães
a esperança dos homens nos próprios homens.
Morreu Abril, as águas e os mares.
Degelo de montanhas em cascatas.
Mares que se enchem de mágoas:
prantos que morrem também;
e a chuva que cai em grossas lágrimas e molha o chão
que engrossa os rios, que engrossa os mares.
Morreu Maio quente de terra fria.
As namoradas às janelas de olhar melancólico
sonhos de existências futuras
sonhos sonhados muitas vezes
futuro que se apaga.
Morreram os noivos nos altares
as flores nas jarras, os padres, os padrinhos: os casamentos.
Morreu Junho popular.
As noites quentes de verão e que invadem as casas
portas abertas na noite que agora é para sempre.
Morreu o canto dos grilos.
Todos os cantos, todos os cantos viraram silêncio porque eu já não os posso ouvir.
E também morreu Julho.
Os cães prostrados de calor,
as moscas preguiçosas a voarem em círculos:
voo lento de abutre – premonição de morte.
Julho de céu azul, espelho de mar, espelho dos olhos da minha mãe…
dos olhos da minha mãe que morreram comigo.
Morreu Agosto.
Morremos nós: tu e eu
as noites de amor, os beijos, os abraços, os carinhos.
A intimidade da nossa vida: o desejo.
A minha pele que ainda há pouco guardava o teu cheiro…morreu.
Setembro morreu maduro.
Dourado, avermelhado: preto para sempre.
As crianças nas escolas: preto para sempre.
Tudo: preto para sempre.
Morreu Outubro.
As árvores vestidas da nudez fria da terra.
O vento na cara, a penetrar a carne,
a despir-nos lentamente: folha a folha…a preparar-nos.
E Novembro morreu.
Seco, gélido, escuro: tumba de recordações.
Inevitavelmente morreu Dezembro.
Comigo morreram todos os natais, todas as famílias,
todos os momentos, todos os sonhos. Morreu o medo e o vazio.
Acabou um ano, uma vida, um ciclo.
Inicio de outro.


22.3.07

Estes olhos

Estes olhos tristes que olham para mim:
de uma tristeza sem fim.

Olhos de um nevoeiro cerrado
longo e demorado:
muro de betão armado.
Olhos de vida roubada
abandonada e saqueada
– por todos…enfim.

Corpo negro de carvão,
enjeitado e maltrapilho
estendido neste chão.
Corpo pisado a cada passo,
de mão aberta no espaço: a pedir.
A pedir…olhem para mim.

Pés descalços descarnados
de caminhos amargurados
que trilharam sobre cardos
sobre as chamas do inferno
e que pouco, muito pouco repousaram.

Estes olhos tristes que olham para mim:
de uma tristeza sem fim.

Mil sonhos desprezados
de quimeras malogradas
numa infância muito curta:
vivida num momento
fugaz e passageiro,
transformado num lamento.
Tempo parado no tempo
tempo que dói a passar
que deixa marcas profundas em sulcos rasgados
por onde escorrem as lágrimas;
tempo: que se acaba.

E no vazio deste olhar:
a morte, sempre vencedora
sempre triunfal
filha de uma outra sorte.
O luto na pele: pele de carvão.
O luto na alma: noite escura, noite sem luar.

Estes olhos tristes que olham para mim:
de uma tristeza sem fim.

Como um animal
sujo e lazarento
tratado como um jumento
ali fica, deitado.
A mão, aberta, vazia: a pedir.
A pedir…olhem para mim.

20.3.07

CAMÉLIA





Do alto de uma árvore no jardim,
Camélia bailarina dançava:
uma dança – constante.
Dançava sem parar, com o vento;
dançava com o vento, seu par.
Dançava…a chorar.
A árvore prendia-a,
com força prendia o seu pezinho fino
– em pontas.
Palco improvisado transformado em cárcere,
prisão de sonhos que aprisiona a própria vontade.
Camélia alva
pétalas de tule
toque de veludo
bailarina que chora sem parar
- lágrimas: de orvalho.
Chora com tristeza a sua dor,
chora…a dançar.

Ás vezes os homens pensam que têm certezas
e que as certezas lhes pertencem,
pensam que conhecem toda a verdade
quando ainda não se abeiraram dela sequer,
e no fim, no fim morrem sozinhos.

O vento dança com ela
e fala-lhe ao ouvido
e diz-lhe vem comigo.
E fala-lhe ao ouvido e diz-lhe
o mundo é feito de mundos dentro do mundo
e eu vou-tos mostrar.
Lá do alto ela vê a paisagem,
reprimida em si, que se acaba no horizonte
e espera o momento,
o momento de se lançar solta nos braços do seu par.
O vento sopra forte entre as folhas
com a sua canção a chamar por Camélia.
As folhas a pedirem-lhe
fica que o vento é incerto,
e as folha a pedirem-lhe...

Ás vezes pensamos que a nossa vontade é suprema,
pensamos que guiamos o nosso destino
e não nos lembramos que o destino,
o destino não é só nosso.

Ela já nada ouve
quer outros palcos,
quer novos públicos,
quer fama e reconhecimento,
quer dançar – a sorrir.
Num ímpeto,
lampejo de felicidade,
solta o seu pezinho e dança livre sobre o abismo.
O vento abranda,
muda de direcção e abandona-a
vai procurar outro par.
Camélia, Camélia bailarina dança pela última vez
rodopia em direcção ao chão;
nem uma palha se mexe,
só ela, só ela a cair…
numa espiral de morte
– num canto de cisne.

19.3.07

CEGUEIRA

Encontrei-te um dia: parado no meio da multidão.
Não sei dizer como tu és, pois só vi o teu olhar
Era de luz
Como uns farois que me encandeiam de noite.
Sim, tudo á tua volta era noite
A multidão avançava nas trevas e tu, ali parado, eras dia
Olhavas para mim. Fixamente, amorosamente…sem pressa
Prendias-me a ti
Quis ficar: para sempre.

Eles foram mais fortes: empurraram-me, arrastaram-me;
Levaram-me, como um rio leva um galho de uma árvore, na força da sua corrente
Perdi-me
Deixei-me levar pela escuridão
Dentro de mim, a tua luz foi-se aos poucos apagando: esqueci.

Aconteceu. Como sempre – de repente
Um choque
Um grito
Sangue e lágrimas: o veredicto
Olhos vazados, vida traída: cega de esperança.
Mais uma vez: perdida
Voltaste
A tua luz voltou
Esquecida e agora lembrada: luz da nova obscuridade
Não te vejo, mas sei que aí estás
Parado ao meu lado
Eles continuam – na escuridão.

18.3.07

PÂNICO


Penso: a alma é vazia de nada
Digo: O nada é vazio de tudo
Escrevo: a morte é tudo cheio de nada

Olho para o mar – de frente;
Vento que o levanta em ondas: enormes
Respiro o mar nos ventos
Inundo o corpo com oceanos
Choro – lágrimas de mar

Penso: o corpo é cheio de mar
Digo: o mar é cheio de vida
Escrevo: a vida é cheia de morte

Mergulho. Levam-me as ondas
Para longe…muito longe
Não vejo terra, nem céu
Vejo-te a ti, perto…muito perto
Agarro-te: ilusão de espuma

Penso: o amor é eterno de dor
Digo: a dor é eterna de ti
Escrevo: eu sou eterna de morte

Afundo. De olhos fechados
Imagens: soltas, desfocadas
Cores a preto e branco
O coração bate...descompassado
Fujo – de mim

Penso: A palavra é a própria essência
Digo: a essência é o próprio medo
Escrevo: O medo é a própria morte

Sufoco. Ar que se acaba
Vento que levanta ondas
E me empurra para o fundo
Mar que me invade por dentro
A morte…respiro…finalmente.